Tartaruga com estilo
Uma das coisas mais incríveis presente na prática de desenhar é a possibilidade de trazer à tona várias de nossas ideias e uma delas é a criação de personagens ou pelo menos apresentar suas formas.
Depois de tantos anos produzindo ilustrações para clientes dos mais diversos segmentos e de diferentes áreas, desenvolvendo os mais diferentes temas, acabou por surgir uma necessidade pessoal de criar meus próprios conteúdos, histórias e meus próprios personagens.
Porém, no caso dos personagens, sem um propósito, sem um tema, sem uma história não se faz necessário sua existência.
Não me sentia preparado para desenvolver qualquer um desses fatores justamente porque minha mente não focava em algo próprio ou pessoal para trabalhar.
Porém, em 2016, uma ilustração que havia feito sobre o tema viagem e aventura para um tipo de concurso online, inspirou-me para escrever uma história que envolvia crianças, animais, companheirismo, sobrevivência e preservação.
Surgia naquele momento o início do meu livro Nena.
Os personagens dessa história não foram criados ou desenhados antes dela.
Suas formas, características e detalhes iam sendo desenvolvidos a medida que avançava com o texto.
Atualmente o texto do livro já está finalizado e agora estou trabalhando na parte mais demorada, talvez por envolver mais tempo nas concepções das ideias, que é o estágio de preparação de esboços e layouts de partes importantes do livro.
Para essa história quero fazer um estilo colorido, simples e contrastado de ilustrações.
E como definir qual estilo usar?
Bem, quando estudamos técnicas artísticas, podemos aprender várias formas de uso para os respectivos materiais e ferramentas bem como a forma de fazer sua aplicação nas mais diversas superfícies como em tela, em madeira, papel, cerâmica, vidro, metal e mesmo nas técnicas relativamente simples usadas para pintar sobre panos de prato ou camisetas.
Seja qual for a técnica estamos aprendendo os fundamentos , as bases, a estrutura, regras conceitos que a regem e definem.
É nesse momento que gosto de comparar, por exemplo, a produção de uma ilustração com a culinária.
Todo livro de receitas é basicamente um conjunto de regras, informações e sequências de procedimentos voltado para quem não sabe cozinhar e assim conseguir preparar o prato escolhio.
Mas uma vez que a receita é aprendida o livro acaba tornando-se praticamente um objeto de consulta para lembrar algum detalhe do preparo ou quais são os ingredientes principais.
A prática do aprendizado culinário a partir daquele livro de receitas causa um outro efeito que é a etapa da criação, da tentativa de diferentes opções durante o preparo, a utilização de temperos diferentes ou o acréscimo de novos ingredientes para substituir outros fazendo surgir assim uma confiança no preparo do prato que passa a permitir o improviso para obter novos ou diferentes resultados.
O prato que veio do livro de receitas começa agora a apresentar um toque totalmente pessoal.
Na ilustração, ou na arte em geral, é a mesma coisa pois após o aprendizado de determinada técnica passamos, durante o período de prática constante, a adotar formas pessoais de como aplicá-la.
Desde uma forma particular de segurar o lápis até como aplicamos a pressão do pincel sobre a tela de pintura vão surgindo diferentes formas de execução.
Já reparou como existem tantos cursos diferentes de desenho ou técnicas artísticas?
São as pessoas demonstrando seus pontos de vista através de novas idéias ou conceitos, práticos ou teóricos.
Muito bem, com o passar do tempo essas pequenas maneiras e atitudes de como aplicar as técnicas passam a refletir no resultado visual das artes produzidas por nós.
O jeito de fazer, o chamado estilo pessoal, surgirá com o tempo mas este também será modificado ao longo do tempo a medida que vamos incorporando novos conceitos, conhecendo outros artistas com maneiras próprias e diferentes de execução, vamos nos permitindo aceitar diferentes práticas e assim essas experiências vao moldando nosso jeito de fazer nossos trabalhos.
Ao longo dos anos fui trabalhando com diversos estilos visuais para minhas ilustrações o que me ajudou a pré visualizar o estilo que cada tabalho teria e que ficasse de acordo com cada projeto desenvolvido.
Para o livro Nena, o critério que escolhi para o estilo visual me ajuda a produzir artes possuidoras de forte apelo visual, o contraste necessário, um aspecto realista – estilizado mas que mantenha uma certa simplicidade.
A intimidade que você passa a ter com a atividade que pratica vai determinando tanto a qualidade quanto a forma que seu trabalho se apresenta.
Não devemos esquecer que tanto o propósito pode determinar o tipo de estilo que será usado quanto um estilo específico pode ditar o andamento de um projeto.
O estilo pessoal, que é basicamente a forma de como fazemos determinada atividade, é alcançado aos poucos e dependendo do grau de exigência de cada um pode estar sempre se modificando.
Provavelmente ao término das artes para o livro Nena, além de ter uma publicação rica visualmente, minha experiência na produção de ilustrações literárias terá melhorado muito e é possível que as próximas artes que venha a fazer dos personagens apresentarão novas características visuais o que é muito bom pois mostrará progresso e novos pontos de vista.
Sim, é bom ser dono de um estilo único mas após atingir determinado patamar dentro de uma técnica sempre buscarei aprimorar ou modificar o que já foi aprendido.
Assim, o desapego é um forte ingrediente para progredir na busca de novas possibilidades visuais.
Obrigado por chegar até aqui na leitura.
Obrigado, desapegue-se mas mantenha foco no progresso do seu aprendizado e Sucesso!!